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Ato com governadores aponta para pacto da direita enquanto governo Lula torce por racha
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Ato com governadores aponta para pacto da direita enquanto governo Lula torce por racha
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Ex-presidente Bolsonaro canta o hino nacional ao lado dos governadores Zema, Mello e Ratinho Jr. (Foto: Reprodução/Silas Malafaia)
Por Sílvio Ribas/Gazeta do Povo
A reunião do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com sete governadores no domingo (6) — entre eles os presidenciáveis Ratinho Júnior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) — antes e durante o ato pela anistia aos réus do 8 de Janeiro, simboliza o ensaio de um pacto da direita para as eleições de 2026.
O encontro, que continuou no alto do carro de som na Avenida Paulista, e os recados dados por Bolsonaro e demais postulantes ao Palácio do Planalto projetam a formação de uma frente única. A avaliação comum é que planos pessoais e partidários precisarão convergir ao menos no segundo turno para vencer a marcha já iniciada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para se reeleger.
“Bolsonaro continua sendo a figura central da direita. A reunião de governadores sugere um acordo tácito para apoiar o nome mais viável, hoje com vantagem para Tarcísio de Freitas. Mas também revela uma disputa por seu espólio político, caso ele não possa concorrer em 2026”, avalia o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Os governadores cogitados para concorrer ao Planalto, Tarcísio, Caiado, Ratinho e Zema, tiraram fotos com Bolsonaro e com os governadores Wilson Lima (União Brasil-AM), Jorginho Mello (PL-SC) e Mauro Mendes (União Brasil-MT), cujos nomes por ora não aparecem na disputa.
A situação foi confortável para todos, devido à abrangência do tema da anistia aos presos de 8/1. O ensaio de união conservadora ocorre quando pesquisas apontam piora na avaliação do governo, mas com resiliência de Lula como candidato da esquerda.
Três semanas após o ato em Copacabana, Bolsonaro voltou a mobilizar aliados em favor do projeto da anistia no Congresso. No primeiro evento público após se tornar réu no processo que o acusa de liderar tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente elevou o tom contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e chegou a sublinhar que o verdadeiro golpe teria sido pela Corte, com movimentos que levaram à eleição de Lula em 2022.
Com público maior, a manifestação de milhares de simpatizantes da direita em São Paulo reuniu mais de uma centena de autoridades. O governador Cláudio Castro (PL-RJ) cancelou de última hora sua ida por conta das enchentes no estado, mas manifestou total apoio à causa.
Governadores miram apoio de Bolsonaro para candidaturas presidenciais
Para o cientista político Elton Gomes a presença de governadores no ato pró-anistia representa a resiliência de Bolsonaro como força política, capaz de mobilizar eleitores e influenciar alianças para 2026 — mesmo ainda estando inelegível.
Segundo ele, governadores com pretensão ao Planalto precisam do endosso de Bolsonaro e por isso tiveram que marcar presença. Gomes diz que, por outro lado, eles podem estar começando a entrar em acordo para uma união em torno do nome mais viável.
O analista afirma ainda que a parceria entre governo e Judiciário reforça a narrativa da direita e incentiva candidaturas que buscam ser ungidas por Bolsonaro, “com o objetivo de herdar o antipetismo e a promessa de ruptura com o sistema que une esquerda, STF e setores econômicos”. Para ele, a atual fragmentação da direita inviabiliza uma união no primeiro turno, “mas o apoio de Bolsonaro tende a convergir forças no segundo”.
Os governadores na Avenida Paulista representam quatro das cinco regiões do país, com exceção do Nordeste. Apesar de fazerem oposição a Lula, quatro são filiados a legendas da base de apoio ao governo. O União Brasil, de Caiado, Lima e Mendes, tem os ministros Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações). O PSD, de Ratinho Júnior, está representado por Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Carlos Fávaro (Agricultura).
Tarcísio larga na frente como alternativa a Bolsonaro e busca unir a direita
Com Bolsonaro inelegível, a corrida presidencial de 2026 tende a ganhar contornos mais definidos. O governador de São Paulo desponta como principal herdeiro político do ex-presidente, ao lado de membros da família Bolsonaro. Nas últimas semanas, Tarcísio tem reforçado sua identificação com pautas da direita, como a defesa da anistia aos réus do 8 de Janeiro, e reiterado o legado do governo passado.
Apesar de estar negando uma pré-candidatura ao Planalto, Tarcísio tem elevado o tom nos discursos, sugerindo a necessidade de uma guinada radical no país e citando como exemplo o governo de Javier Milei, na Argentina. Ratinho Júnior (PSD-PR) pode avançar conforme as articulações lideradas por Gilberto Kassab, presidente do seu partido e secretário do governo paulista.
A pressão por uma candidatura de consenso na direita cresce à medida que Bolsonaro persiste como figura central, mas sem viabilidade eleitoral. O ex-presidente resiste em abdicar do papel de pré-candidato, o que fortalece sua posição diante da batalha judicial e como ator político. Aliados viram nas últimas semanas uma chance de ele recuperar seus direitos políticos em um recurso sob análise do ministro Luiz Fux, do STF, mas sem garantias.
Na próxima quinta-feira (10), completa-se um ano desde que o recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) está sob análise do ministro Luiz Fux. A petição pede a anulação da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, em 2023, tornou Bolsonaro inelegível por oito anos, em razão de uma reunião com embaixadores estrangeiros realizada em julho de 2022, na qual ele lançou dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Apesar da relevância política do caso, não há prazo definido para que o ministro se manifeste. Nos bastidores do Judiciário, a expectativa de uma decisão favorável à reversão da inelegibilidade é considerada baixa.
Em paralelo, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, se movimenta para posicionar sua legenda nas eleições de 2026, almejando a vice-presidência numa chapa de direita. Ele também defende que qualquer candidato apoiado por Bolsonaro deveria se comprometer com a anistia ao ex-presidente.
Nos últimos dias, as negociações para a formação de uma federação entre o PP e o União Brasil avançaram significativamente. A expectativa é que o anúncio oficial ocorra até o fim deste mês, conforme indicado por lideranças de ambos os partidos. Essa união fortaleceria a centro-direita e poderia impactar a configuração política para as eleições de 2026, possivelmente dificultando os planos de reeleição de Lula.
O Republicanos, que inicialmente participava das negociações, decidiu não integrar a federação, optando por manter sua independência.
Esquerda identifica Tarcísio como alvo e aposta em racha na direita
No outro extremo, Lula permanece como o único nome competitivo da esquerda, mesmo enfrentando queda histórica de popularidade. O Palácio do Planalto aposta na recuperação de sua imagem e em divisões no campo adversário como trunfos para viabilizar a reeleição.
Levantamentos que indicam o crescente potencial de Tarcísio e resiliência de Lula motivaram reações do ex-ministro José Dirceu, maior estrategista da esquerda. Ele fomenta a torcida por uma eventual divisão do campo conservador, o que poderia enfraquecer a construção de uma candidatura unificada e beneficiar o projeto de reeleição de Lula.
Para Arthur Wittenberg, professor de relações institucionais e políticas públicas do Ibmec-DF, a antecipação das pré-campanhas para 2026 é um movimento atípico que atrapalha o debate de temas nacionais, ao submeter a agenda pública à lógica eleitoral. “Vivemos algo precoce, que desvia o foco das políticas públicas e acirra ainda mais a polarização”, avalia.
Segundo ele, a queda na popularidade de Lula contribui para esse cenário, evidenciado na imagem de Bolsonaro ao lado de sete governadores. Apesar de considerar cedo para falar em pacto da oposição em torno de um nome único, Wittenberg vê um movimento claro por protagonismo.
“Não se trata só de Bolsonaro, mas de uma disputa por um espaço de centro que Lula está perdendo. A estratégia [para cada possível candidato] é ganhar tempo e musculatura até 2026, convencer os demais a desistirem e, se possível, herdar o apoio do ex-presidente e de seu grupo”, conclui.
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